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Posts Tagged ‘Crise na Palestina’

Pouca gente ouviu a notícia, mas Samuel Huntington morreu na noite de Natal, no último dia 24 de dezembro. Para quem não sabe quem é Samuel Huntington, ele foi um dos grandes cientistas políticos dos EUA e o criador da frase “Choque de Civilizações” (Clash of Civilizations), que tentava explicar como seria o mundo pós-Guerra Fria.

huntington

Samuel Huntington

Na verdade, Huntington disse muito mais do que isso. Professor em Harvard aos 23 anos de idade, ele cunhou algumas das teorias políticas mais importantes do século XX e início do século XXI. Além disso, era um dos mais respeitados analistas militares e geopolíticos existentes no mundo, sendo consultor do Governo Americano, Coordenador de Planejamento de Segurnaça de Jimmy Carter (1977-78 ) e do Governo do Brasil na época da ditadura (governo Médici, 1969-74), além de vários outros governos, ditatoriais ou não. Vê-se que de santo, não tinha nada… Mas vamos a suas idéias.

A idéia latente por trás do que Huntington escreveu em seu famoso texto da Foreign Affairs (uma revista de Política Internacional), em 1993, chamado “Clash of Civilizations?“, foi a de que os conflitos no mundo pós-Guerra Fria não seriam mais direcionados pela bipolaridade americano-soviética. Ao invés disso, o grande direcionador de conflitos seria o caldeirão de diferenças e intolerâncias culturais existentes por todo o mundo. Basicamente, ele retira dos Estados-nação a hegemonia de serem os detentores dos conflitos e percebe que o foco de tensão atual está mais ligado ao background histórico, religioso, de linguagem e de tradições do que a questões nacionais.

De início, suas teorias foram muito questionadas, até que os levantes de 2001 do grupo extremista islâmico Al Qaeda contra os EUA puseram Huntington em relevância. Parte das pessoas que conheciam seu trabalho atribuiu a ele uma capacidade de previsão enorme destes atentados, enquanto outra parte acusou-lhe de promover o famoso clash das civilizações.

No entanto, o que de relevante há no artigo de Huntington é que ele percebeu que existem hoje diferenças que, em épocas passadas, não eram cruciais para a existência de conflitos. A questão religiosa e a questão cultural exercem uma influência enorme na tomada de decisões dos líderes, provocando tensões militares difíceis de controlar.

A questão da Palestina é uma delas. O Hamas, ao romper a trégua e iniciar ataques com seus morteiros contra Israel, gera uma resposta massiva contra a Palestina, fomentando ainda mais os ódios religiosos e fundamentalistas dos muçulmanos contra os judeus. Ocorre que o poder de fogo de Israel é infinitamente superior ao dos palestinos e os ataques acabam por ser desproporcionais.

Voltando ao que Huntington diz em seu artigo, temos:

É minha hipótese que a fonte fundamental de conflitos neste novo mundo não mais será primariamente ideológica ou econômica. As grandes divisões da humanidade e a grande origem dos conflitos será cultural. Estados-nação continuarão a ser os atores mais poderosos nas relações internacionais, mas os principais conflitos na política global ocorrerão entre nações e grupos de civilizações diferentes. As linhas de falha entre as civilizações serão as linhas de batalha do futuro. (HUNTINGTON, S. Clash of Civilizations? Revista Foreign Affairs, verão de 1993, extraído do link http://www.foreignaffairs.org/19930601faessay5188/samuel-p-huntington/the-clash-of-civilizations.html?mode=print)

Huntington, desta forma, estabelece que sua hipótese é a de que haverá conflitos que gravitarão em torno da questão cultural e não mais de questões econômicas ou ideológicas. É exatamente isto que ocorre na Palestina atualmente. As questões culturais (principalmente as religiosas) fomentam uma guerra que não seria possível anteriormente. Como os homens-bomba conseguiriam existir se não houvesse um fator religioso extremamente forte por tras de sua atuação? Como Israel defenderia tão vigorosamente e cruelmente sua terra se não acreditassem que aquele solo é sagrado?

Mas como resolver este impasse? Huntington nos dá uma dica, dizendo que será necessário que

“(…) os países do Ocidente desenvolvam um mais profundo entendimento das premissas religiosas e filosóficas de outras civilizações e do jeito que as pessoas destas civilizações veem seus interesses. Será requerido um esforço para identificar os elementos de comunidade entre o Ocidente e as outras civilizações. Para o futuro relevante, não haverá uma civilização universal, mas sim um mundo de diferentes civilizações, cada qual que terá que aprender a coexistir com as outras.” (HUNTINGTON, S. Clash of Civilizations? Revista Foreign Affairs, verão de 1993, extraído do link http://www.foreignaffairs.org/19930601faessay5188/samuel-p-huntington/the-clash-of-civilizations.html?mode=print)

O que ele diz aqui é simplesmente uma coisa: é preciso tolerância. E não é só de um lado, mas de todos. A idéia de um mundo dominado por civilizações só faz sentido se aprendermos a conviver uns com os outros. Sem isso, será um eterno conflito entre as pessoas, seja na Palestina, em Israel, na Faixa de Gaza, na Chechênia, no Equador, na Bolívia, na Gaviôes da Fiel ou na Mancha Verde.

No fim deste post, coloco um vídeo da Reuters que demonstra um pouco do horror do que pode acontecer sem a tolerância entre as civilizações.

Outro vídeo interessante é o que está na página do Financial Times, no link 

http://www.ft.com/cms/s/0/1302d4d0-db58-11dd-be53-000077b07658.html?nclick_check=1

Esperemos que este banho de sangue cesse o quanto antes.

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